segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quero.

Seria o medo de andar no escuro, que por isso espero no absurdo?

Quantas vezes visitei o nada partindo de idéias prematuras, esperando a beleza surgir do caos, e da beleza a borboleta azul e o trenzinho cuspindo fumaça, e a mariposa beijando a luz, queimando o corpo, acariciando o âmago que deseja o fogo.

Quantos precipícios que não foram saltados, e letras que tantas vezes escritas, tantas vezes as mesmas, redundantes e sem sentido.

Quero o corpo de qualquer canção, o abandono das palavras, o sublime no cinema, a serenidade que habita no silêncio, a complexidade de sentir dor e calor e saber que a vida prepara o futuro com tanta certeza do que virá.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bem menos

Uma nave aporta. Nada importa.

Tudo desintegrando aos poucos. Imagens perdendo a cor.

Estética do nada. Fim da dialética frenética, esquizofrênica e ritmada.

Te odeio bem alto com os ouvidos surdos.

Te odeio bem alto sem som.

Apito.

Essa nave idiota se levanta e vai.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mau-dição

Vou em sua busca mais uma vez, você não está em parte alguma, evaporou, nem mais amigo, nem mais amante.

Entro na madrugada. Você deve estar em alguma parte onde toca uma canção. Não houve a nossa canção mas hoje ela toca e eu pareço louca atrás de algo que não existe.

Vou em busca daquele velho beijo, o nosso cheiro. Te mando mais uma carta. Você responde e eu acredito em tudo mais uma vez.

Você está na minha frente. Te beijo, te toco, ainda não acredito.

O nosso velho beijo. Que amor eu sinto e como estúpida me sinto de novo sendo só sua.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nós resistimos

Nós resistimos. Através da internet estamos ligados pelos nossos sonhos e satélites. Nós resistimos na folha em branco, nas páginas dos programas, nos bate-papos, na tela plana na qual lançamos nossa profundidade. Nós resistimos no apito dos arquivos que saltam de tela em tela, nosso conteúdo comprimido, nossa paixão, nosso anseio e saudade, tudo comprimido, para caber no container das transferências à distâncias.

Nós resistimos, nossa luta, nossa convicção, nossa lembrança, resiste no carregamento das fotos, na sessão de slide, no correio eletrônico. Nós resisistimos com alma sozinha tracejando letras, traquejos e expressões, trocando carícia virtual, não temos medo da inflexão do verbo.

Metamorfoseamos em wmv, mp3, docx, jpg, mpg, vob, avi. Resistimos na clausura das pastas, no limite da nossa imagem e do nosso som. Existimos onde não estamos, buraco vazio na cadeira do escritório. Somos tudo em monitores.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

catarse

Senti sua falta esses dias, mas já não sou mais a que eu era antes de novo. Quantos fragmentos de pessoas, uma dependência desleal, um desencontro. Preciso urgentemente me encontrar. Não sei ser linear, meus amigos estão na luta linear, eu estou na luta avessa. Sou tão explícita do que preciso que tenho vergonha. Quero que vc saiba que também sou amiga contínua nos meus pensamentos. Mas todos os ritmos que me interessam estão contra a minha corrente. Estou presa e louca de novo. Me sinto bem presa, acho que é isso, se é que me entende.

Eu não sou igual mesmo ao que é daqui e não quero ver a vida esvair assim na minha frente. Preciso agradecer a tudo o que eu tenho, mas não consigo ser grata porque tudo que se vai. Estou dormindo e sonhando de novo, em cada sonho pinto uma estrela para os filhos que virão, sou tão triste. É TPM. Só pra dizer que você é um amigo que faz falta, mas não conseguia te olhar sem os olhos do peito. E precisava repousar urgente em algum colo, mas continuo dormindo sozinha e não sei por quanto tempo.

Eu te escrevo porque sei que você me entende no nosso silêncio, mas é que fico sem graça porque nenhum amigo me escreve amargura como eu e penso que é feliz não escrever amargura. Não gosto de ser vista feia, embora nem todos vejam o por fora. Não gosto da apreensão que estou sentindo por sentir a morte. Se eu não cometer extravagâncias posso passar a vida escrevendo tolices. Se eu rezar esqueço o preço da dor, não quero ver ninguém morrer e não posso deixar que se vá. Por isso continuo nessa dança louca e sincera como espelho, irresponsável, explícita, arredia, fugidia, média, mínima, incansável e incapaz.

Espero que vc entenda e seja capaz de perdoar o meu drama e tpm desperdiçados em caracteres e enviados pra vc.
 

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um longo dia de ressaca-quase um passo para a lucidez

 A bêbada acordou de ressaca. Pensou que trocaria a noite passada por qualquer outra sensação que não tivesse aquele zumbido estranho e que não doesse quando pisasse. Passou o dia sozinha com a avó, descobrindo que aquela velhice está a apenas 52 anos de distância. Passou o dia desconversando consigo. Não quis ir a lugar algum porque já tinha ido e mesmo amanhã não vai querer, mas vai.

A vida no fundo do mar funcionou até o momento em que o peixe tentou conversar com a lula e ficou um enorme silêncio de associação. Agora cada um na sua própria praia pode contar os infinitos grãos de areia da vida que escapa.

Pensar em ninguém, disgusto, quebranto, folie, febre, zas.

A bêbada conta os dias para parar de beber e bebe ávida de espanto os dias que restam. Até lá, vai ser muito feliz. Até lá, vai manter-se paciente. Até lá, vai fingir que conhece a cara da felicidade.

Decide navegar na internet, que deveria ser mais seguro. Mas alguém debochando de seu descaso escreveu no topo de todas as páginas: Mentira!

Até que depois de constatar a quantidade significativa de pessoas com o mesmo nome que o seu, encontrou o seguinte depoimento que lhe calou e de maneira enlouquente riu em pleno silêncio:

 

“Bom, o que dizer de mim?
Sou ator da novela Beleza Pura, fui ator da novela Paraíso Tropical, porém antes da fama, trabalhei numa feira de artesanatos e iniciei minha carreira quando venci o concurso de mister estudantil. No colégio "Barão de Mauá" iniciei as minhas primeiras experiências com as artes cênicas que era obrigatória no currículo estudantil. Sou romântico e adoro agradar a Yana, enchendo-a sempre de presentes. Estou surpreso, mas muito feliz com o sucesso do meu personsagem Felipe. Obrigado a todos vcs por isso. Bom, é um prazer poder interagir com o mundo através deste instrumento maravilhoso que é o Orkut.
Obrigado a todos que acompanham o meu trabalho. Peço desculpas por não conseguir tempo de responder os scraps ou os depoimentos, mas infelizmente meu tempo está curtíssimo. Queria que me compreendessem...
Vou parando por aqui, pois quem se define, se limita...” ( Gustavo Leão)

hhahahahah... ops!

Saiu da página sem querer, e quando resolveu reiniciar as buscar pelo nome da pessoa percebeu que existiam um milhão de fakes do jovem ator, todos verossímeis e nunca saberia qual deles  tinha encontrado, mas queria crer que o real era aquele que namorava a Yana. Para finalizar escreveu seu nome de novo no campo de pesquisa, era isso e lá estava ele de novo! Ficou repetindo o gesto quase cego.

domingo, 26 de abril de 2009

Primeiro sinal

Um apito frio que invade a platéia como um foco de luz em direção à arena, surpreendente, como o primeiro, ainda meio sem sentido, como o primeiro, prematuro, como o primeiro, demasiado, destinado, embriagante ( o quanto tudo cabe num primeiro sinal, o início e seu fim).

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ps:

Ps: Exceto o ano e o mês de publicação no Estado de S. Paulo, nada me chama a atenção num texto onde tudo faz todo o sentido que não faz sentido algum. Não sei se sou o narrador e você a ruiva do cão basset. Não sei, nem ao menos, se gostaria um dia de escrever como Caio Fernando Abreu, me descuidando do sexo e de suas odisséias. Poderíamos todos sermos o cão basset e daí fugiríamos, como você pretende, dos muros da linguagem. Mas eu ando atenta, atenta e desatenta, desalentada demais para acreditar na importância dos sujeitos. Apenas me movem e demovem os predicados e seus adjetivos. Essa coisa louca e intensa, densa, que é a nossa vida quando pesada na mesma balança. A igualdade é o que mais me apaixona e aprisiona. (A linguagem o que deveríamos aprender na academia). 

Exceto o ano da publicação, a existência de tal escritor, e a epifania de "ter a face para outra pessoa que também tem uma face para você" ou a "tentação" da Clarisse em arriscar falar do abismo, NADA  mais teria me feito te mandar esse texto. 

Bjos.


terça-feira, 14 de abril de 2009

L'ultime vague**

Quanta coisa passa, me parece que o tempo inteiro foi desacontecendo muito rápido e que nós estávamos nele.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Reencontre*

Eu não sabia girar a chave de casa, numa porta a chave gira para um lado, noutra porta, para o outro.  Arranquei os adesivos do Estado do elevador, não faz sentido ter que ficar olhando para uma ordem falha e infantil.

 

sábado, 4 de abril de 2009

Silêncio


Introdução:

Se tivesse dito a solução viria do espaço bem fora do tempo, entenderia como tirar você de trás da tua capa. A realidade seria a chuva metafísica, inundaria o mundo de soluções, sequestraria a sua música de sua abstração e faria filhos com ela. De quem seria a cor dos olhos? A cor dos cabelos? De quem seria as primeiras palavras de um filho que anda por aí, pela chuva, pela noite?

Dirijo as estrelas, sou fã dos astros, busco encontros e tenho um medo insuportável da morte. Medo do canto da sereia maldita e louca.

Irmandade

Já te sinto como se te conhecesse amigo na infância, irmãos nos pensamentos mais cruéis, na apreensão da irrealidade. Eu te digo desapareça, cresça e penso mais uma vez, irremediavelmente na morte.

Sonho, loucura 1

Vivo me esquecendo. Vou arrebentando o peso do tempo, estourando suas veias, derramando paixão, cólera, volúpia pelos ares. Vivo lembrando que esqueço despedidas, medidas de segurança, alegorias.

Pesadelo, os fantasmas 2

Acordo para a infâmia. Me lembro de quando percebi que meu telefone não tocava mais e de como me senti inútil. O mundo desaparecendo com suas utopias, o meu desejo pelo espaço, por uma saída da via láctea. Vivo sempre pensando o quanto é natural não querer mais ser gente. Desaprender tudo desde o começo.

Captopril

Tudo o que é insuficiente e que nele excede.

Pavor

Do palco, da cara sem máscara, do mofo na fantasia, da câmera quebrada.

E se fosse possível, temeria a capacidade de construir mundos sonoros e paralelos.

Desconstrução 1

Dizem que minha geração não pensa, que ela só faz barulhos. Não compõe, não reage, não capta, uma geração prosac, que faz tudo escondido na corrente sanguínea.

O início

Voa! Vai atrás de suas asas, de suas próprias estradas, cante e mande os males para bem longe. Qualquer verdade pode salvar uma criança na chuva. Pegue-a pela mão e atravesse a sua rua.









terça-feira, 31 de março de 2009

Do verbo "Aprendre"

Custa a vir a paisagem, o homem, a cor púrpura do céu, a mão que suspende o corpo e aprende o peso.

Eu ainda não aprendi a deixar tudo isso correr sem mim.

Humana demasiada humana, um dia desses vou querer desbancar Balzac.

domingo, 29 de março de 2009

Débora Coke


Tive que voltar ao mesmo teatro para saber que ali nada seria interpretado além da técnica. Não havia espetáculo fora dos limites da razão plástica. Se eu desaparecesse um gesto seria posto para cobrir a ausência, um pano faria um breve protesto ou uma bailarina daria um salto.

Por isso voltei aquele assento e entediada assisti aos dois atos.

Senhora do tempo

Senhora do tempo. Relógio de borboleta que pousa nas horas sem propósito. Vive cada instante como se fosse o primeiro e procura dentro de cada segundo o seu milésimo.

(...tempo, tempo, tempo, tempo...)

Loucura travestida de tristeza me examine bem e veja se não posso metamorfosear-me em senhora de um tempo que não é o meu tempo, uma borboleta que pousa onde vê cor e beleza.

( ...tempo, tempo, tempo, tempo...)

Uma oração para rejuvenescer aquele que morre. Aquilo que jamais será no vir a ser.

sábado, 28 de março de 2009

La sirene surprend son sens, elle regard l'interieur de son bateau. Seule le navire qu'elle desire. La terre ferme. Se promener avec des jambes, voler pour chercher les ailles de son oiseaux. Elle chante la nuit, n'est pas pour attirer les marins, mais le bateau.

La chanson est fascinant parce qu'elle est un melange de sel et de sable.

Du vent et des huitres.

(Mais c'est un gemissement et la sirene est un murmure de la mer, 
la preuve de l'existance des profondeurs).

Le soleil eclirant la planet, reveille la sirene de l'ocean et l'attire vers la surface. son rêve est d'exister, quitter la mer d'inconscient. Avoir une ombre et marcher avec ses propres jambes.

Mais c'est n'est qu'une sirene, une invention.

ou:

A sereia surpreende seus sentidos, ela olha para dentro de seu navio. É  só a embarcação que ela deseja. A terra firme. Caminhar com suas próprias pernas, voar atrás das asas de seu pássaro. Ela canta na noite. Não para atrair o barqueiro, mas o barco.

A canção é fascinante porque é um misto de sal e areia.

De vento e ostra.

( Mais é um gemido e a sereia é um murmúrio do mar,
a prova da existência das profundezas).

O sol projetado no planeta acorda a sereia do fundo do mar e a hipnotiza para a superfície. Seu sonho é existir. Deixar o mar inconsciente. Ter uma sombra e caminhar sobre seus próprios pés.

Mas não é mais que uma sereia, uma invenção.

É.

É imenso o caminho para o não lembrar. É incerto e caminho para os caminhos certos. 
É insano e a loucura até que me cai bem. É antigo e sigo para a construção de museus.

É profano e permaneço na concepção do sagrado. É eterno porque existe na memória do enquanto durou.
É perene, é verdade, é um sonho e um pesadelo, é uma trilha que vai dar em mata fechada. É um raio que pode levar a morte. É uma morte que precisa da causas, repleta de pequenas e grandes consequências.

É o fim. ( ...ou promessa de vida pro meu coração...)

Vicissitudes

Corpos frios no interior da caverna. Platão olha lá dentro e diz:

-Repara, se todos saírem com vida teremos certeza de que a caverna é excelente para espetáculos e projeções.

Alguém em Mileto tenta fazer cálculos, sabe-se que há um rapaz de Atenas perdido num labirinto, um jovem morre por ter as asas derretidas, um velho se joga de uma janela por ter julgado a cor de uma bandeira.

Tudo tão contemporâneo que chega a doer.